Thursday, November 28, 2013

Noite


Gosto da noite acordada...
Do seu véu de mistério que só revela parte e apenas o que quer
Do tom intimista que dá às conversas
Dos segredos partilhados a meia voz
Dos olhares cruzados à luz de uma fogueira ou de um candeeiro longínquo

Gosto da noite dormida...
Dos sonhos inconfessáveis que se guardam no canto dos segredos só nossos
De acordar e ficar naquele estado latente como que flutuante entre a realidade e o sonho

Gosto da noite solitária...
De deitar no chão a contar estrelas
De ficar à janelas a ouvir a noite
De deixar ps pensamentos divagarem sem rumo, sem pressa
De ficar à espera do próximo pirilampo

Seja qual for a noite, dá-me força, dá vontade de viver o dia...

Friday, November 22, 2013

Música

"Quando estiveres a acabar, sustenta a última nota e faz um decrescendo até se deixar de ouvir..."
"Mas, professor, acha que se vai ouvir na audiência?"
"Não, mas tu vais ouvir..."

Monday, September 16, 2013

Manifesto: The mad farmer liberation front


Love the quick profit, the annual raise,
vacation with pay. Want more
of everything ready-made. Be afraid
to know your neighbors and to die.

And you will have a window in your head.
Not even your future will be a mystery
any more. Your mind will be punched in a card
and shut away in a little drawer.

When they want you to buy something
they will call you. When they want you
to die for profit they will let you know.
So, friends, every day do something
that won't compute. Love the Lord.
Love the world. Work for nothing.
Take all that you have and be poor.
Love someone who does not deserve it.

Denounce the government and embrace
the flag. Hope to live in that free
republic for which it stands.
Give your approval to all you cannot
understand. Praise ignorance, for what man
has not encountered he has not destroyed.

Ask the questions that have no answers.
Invest in the millenium. Plant sequoias.
Say that your main crop is the forest
that you did not plant,
that you will not live to harvest.

Say that the leaves are harvested
when they have rotted into the mold.
Call that profit. Prophesy such returns.
Put your faith in the two inches of humus
that will build under the trees
every thousand years.

Listen to carrion -- put your ear
close, and hear the faint chattering
of the songs that are to come.
Expect the end of the world. Laugh.
Laughter is immeasurable. Be joyful
though you have considered all the facts.
So long as women do not go cheap
for power, please women more than men.

Ask yourself: Will this satisfy
a woman satisfied to bear a child?
Will this disturb the sleep
of a woman near to giving birth?

Go with your love to the fields.
Lie down in the shade. Rest your head
in her lap. Swear allegiance
to what is nighest your thoughts.

As soon as the generals and the politics
can predict the motions of your mind,
lose it. Leave it as a sign
to mark the false trail, the way
you didn't go.

Be like the fox
who makes more tracks than necessary,
some in the wrong direction.
Practice resurrection.

Tuesday, August 13, 2013

Memórias musicais

É incrível como algumas músicas que ouvimos quando somos pequenos se pegam à nossa memória com uma força superior a tantas outras que ouvimos no nosso dia-a-dia. Esta é outra música de Rui Veloso que me lembro de ouvirmos no carro viagens de família.

E é incrível como algumas músicas com que nos identificamos há 10 anos, continuam a fazer sentido hoje em dia... E músicas ouvidas no diskman com uma folha à frente a tentar perceber a letra, ainda sei quase todas as palavras, e os mesmos versos que nos chamavam a atenção, ainda são aqueles a que a nossa mente se liga.

"Você não tem status, é um pouco aéreo, não mostra sinais, ninguém o leva a sério..."

Olho para trás e penso o que mudei desde esse tempo e agora venho aqui escrever e percebo que não mudei assim tanto... Desenterrar memórias é assim...

Bem e se continuar perdida como descreve Rui Veloso, resta-me sempre a solução "deixe o litoral, povoe o interior (...) lá nas serranias é outro amanhecer, junto com os dias você vai renascer...". E, estranhamente, faz sentido...



Monday, July 22, 2013

Desajeitados

"Não te estou a dedicar esta música nem nada, porque acho que ela tem uma letra muito forte, mas ouve..." disse ele de auricular na mão...
"Está bem..." respondeu ela confusa.

E apesar do que ele disse, foi como se lhe tivesse dedicado aquela música... Andou anos ali escondida no computador, entre tantas outras músicas, tal como tantas outras coisas... Mas ela sabia sabia a letra de cor...

Passados muitos anos, ela leva-o ao sítio do primeiro beijo e, de auricular na mão diz-lhe para ouvir... essa música...

E aquela ficou a ser "a" música deles....


Monday, June 17, 2013

Anaquim



Esta foi a música que me fez apaixonar pelos Anaquim (sem a receita!). Sentada no chão de um pavilhão cheio de gente, sentir-me por um momento isolada de tudo, numa bolha só minha, a tentar captar as palavras todas da música e virem-me lágrimas aos olhos.
Porque todos queremos ser especiais, ter alguma característica que nos destaque ou ser outra coisa diferente. Algures no fundo do nosso ser esta insegurança que nos faz olhar para os outros e querer ser mais divertidos, bonitos, corajosos...

Wednesday, May 22, 2013

Sufoco

Há locais que nos sufocam. Perdão, não são os locais, mas o que vivemos neles. Mas a verdade é esses eventos ficam sempre ligados aos locais. Mas como ia a dizer, há locais que nos sufocam. Da janela do meu gabinete contemplo o Alvão (ou será Marão?) com as giestas em flor. Se me levantar e for à janela contemplo uma imensidão de verde com Vila Real em segundo plano. Trabalho num dos campus que acredito serem dos mais bonitos de Portugal e no entanto não me consola esse facto. Porque a vista que eu tenho é por uma janela, um género "podes ver mas não podes tocar". E isso ata-me, prende-me sufoca-me...

Dirijo mais uma vez o olhar para os montes, pensando em lhes chegar. Mas estão longe, inalcansáveis, uma miragem... Como tudo o que gostaria de fazer, como o meu futuro profissional. Sempre disse que era uma bióloga de campo, mas encontro-me presa a um gabinete 8, 10 ou 12 horas por dia, amarrada a uma cadeira, agarrada a um computador, e penso: onde estou eu, onde me perdi?

Lá fora há sol, há aves, há flores, há natureza, mas no meu coração o Inverno ainda cá está, 8, 10 ou 12 horas por dia, e quando saio já não encontro a Primavera, apenas a noite, e é a noite tudo quanto me resta. E agarro-me a ela como o meu último sopro de vida, as minhas únicas horas viva, antes da hibernação que recomeçará novamente nas 8, 10 ou 12 horas do dia seguinte...

Tuesday, April 23, 2013

Ardem-me os olhos com as lágrimas por derramar
Doi-me o coração com dores ocultas, sufocadas
Sentimentos reprimidos, represas invisíveis
E vem o gelo e o fogo, o pisco e a andorinha
Vão-se as torrentes e instala-se a calma
Como prenúncio ignorado de tempestade...
(Amanhã o sol nascerá novamente
Amanhã, depois, quando?)
Mas quando a cidade repousa,
Quando não há mais luz para revelar o mimetismo,
Aí nos encontramos
Numa esquina entre o último adeus e o primeiro suspiro
Num canto qualquer obscuro, deserto...
Oh última companhia do dia!
Oh cruel musa reencontrada!

Friday, April 19, 2013

Escolhas

Gostava de poder viver várias vidas. Há quem fale em universos paralelos e esta também poderia ser uma opção interessante. A realidade é que há tanta coisa que eu gostava de fazer que parece-me que não chega para uma única vida, sobretudo quando entramos no campo das escolhas. Ao escolher uma porta estou automaticamente a fechar outras tantas. É por isso que gostava de acreditar que quando esta vida acabar poderia viver outra, fazer escolhas diferentes e experimentar coisas diferentes. O que está por trás da porta A e do cruzamento B? Quantas vidas diferentes poderia viver se tivesse escolhido diferente?
Não sou pessoa de me angustiar muito com as escolhas feitas nem de querer voltar atrás, mas há dias em que eu gostava que a minha vida pudesse ser diferente, em que gostaria de saber como seria se... Há dias em que sinto que vou perdendo tanto pelo caminho, que tenho receio de chegar a um ponto e perceber que fiquei a meio caminho.
Mas como não tenho estas opções, resta-me pesar bem as opções, escolher o melhor que posso e seguir o meu caminho... e de preferência não olhar para trás...

Friday, March 22, 2013

Ler

Existem dois motivos para eu ter uma enorme necessidade de um livro: para fugir da realidade ou para a perceber.
Por vezes é mais fácil afundar-me num livro, nos dramas e problemas de outros em vez de nos meus próprios e nessas alturas é bom ter um livro tão envolvente que não nos deixe pensar noutra coisa. Que nos preencha e nos ocupe completamente. Estes são os livros que nos marcam que nos prendem e nos deixam a cabeça às voltas com as personagens, com as opções, as oportunidades. Estes são os livros realmente bons.
Outras vezes não preciso de fugir da realidade, apenas trazer um pouco de luz, para que posso vê-la melhor, percebê-la melhor. Neste caso o livro pode ser apenas uma ferramenta, ou através das personagens ou por me ajudar a distanciar o suficiente para conseguir adquirir perspectiva.Nestes livros não preciso de algo tão bom. apenas de algo por onde me agarrar.
E claro que há aquelas vezes em que a necessidade já não é tão grande mas um livro ajuda... A passar o tempo, a entreter, a libertar a mente antes de dormir...
Por isso tenho sempre um livro...

Tuesday, March 19, 2013

"Se fores apanhado nos sonhos dos outros, estás feito!"
Gilles Deleuze

Sunday, March 10, 2013

Se eu não fizer nada pelo mundo, pelo menos que tenha sido...

Friday, February 15, 2013

Plantar uma árvore, ter um filho, escrever um livro...

Diz a voz popular que todos os homens deviam fazer três coisas: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Gostaria de chegar um dia e ter estas três tarefas cumpridas. Tenho a árvore plantada, quero vir a ter filhos, mas não sei se alguma vez conseguirei escrever um livro...
Comecei várias histórias para crianças, mas nunca tive aquela ideia de história que é tão boa que não sai da cabeça e tem mesmo que passar para papel.
Gostaria também eu de ser capaz de pegar num lápis e criar um universo meu, onde alguém se pudesse perder, colorir com as cores da sua imaginação e desejar ficar. Um livro onde a magia pudesse ser real e deleitar-nos com as suas infinitas possibilidades. Um livro com um final feliz... Com personagens boas que nos pudessem ensinar algo... Um livro por entre todos os meus livros que eu pudesse chamar verdadeiramente meu.
Mas resta-me esta incapacidade de pegar em algo e levá-lo até ao fim, esta fraqueza que me leva a desistir do que comecei, esta insegurança e que nunca será suficientemente bom...
Afinal há quem responda à voz popular e diga que "Ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro é fácil. Difícil é criar o filho, regar a árvore e ter alguém que leia o livro…"
Mas um dia hei-de pegar no lápis...

Saturday, January 26, 2013

Neve

Cai a neve, pura, branca, límpida...
Cai e vem cobrir a terra com o seu manto
Vem dar um novo começo,
Terreno novo para marcar novas pegadas.

Vem limpar a sujidade, podridão
Cai e vem com o seu frio parar a vida,
Adormecer as sementes.

Vem neve e cobre com o teu manto o meu coração.
Adormece também esta dor, esta tristeza
Cai e limpa esta morte no meu ser
Vem purificar e iluminar esta escuridão.

Monday, January 14, 2013

Tempos

Existem diferentes tempos...
Tempo para falar e tempo para calar.
Tempo para agir e tempo para esperar.
Tempo para rir e tempo para pensar.
Tempo para fazer e tempo para parar.
Tempo para interiorizar e tempo para exteriorizar.

Este é um equilíbrio muito importante e dele depende também o nosso próprio equilíbrio.

Eu estou num tempo diferente. A minha rotina mudou, as minhas prioridades mudaram... É um tempo que me está a fazer muito bem, um tempo de paragem. Mas é apenas um tempo como os outros, um dia ele mudará e a minha vida voltará a mudar. Mas restar-me-ão estas forças acumuladas, um tempo que me permitiu alcançar um equilíbrio, um contra-ponto à corrida que eram os meus dias. Mais um tempo...