Monday, March 30, 2009

Queda livre

Há momentos em que nos tiram o chão debaixo dos pés. Simplesmente isso. Num momento estamos seguros na confiança do chão que nos suporta e no momento seguinte estamos em plena queda livre. A certeza das confianças foi-se e agora o que temos é apenas essa queda livre, sem saber como ou quando vai acabar... Nem sequer fazemos tentativas de nos agarrar ou impedir a queda, sabemos que não a podemos impedir, sabemos que temos de cair! Sabemos que tudo o que podemos fazer é cair e pensar como podemos depois voltar à superfície.
Mas a escuridão e a queda é demasiado forte e absorvente e tudo o que conseguimos são excertos, imagens, palavras que nos caem cá dentro como pedras acelerando a queda contra todos os principios da Física... e sempre a sensação asfixiante da queda livre...
Perdemos a visão geral, a capacidade de nos abstraírmos do presente e de localizarmos tudo no imenso padrão e descobrir as hipóteses... Confuso? Muito... Mas no fundo o que quero dizer é que perdemos a prespectiva.
Sabemos intuitivamente que algo vai ter que mudar e que vamos reavaliar muito bem aquilo que somos e a nossa posição, porque isto foi o choque que abalou tudo o que pensávamos saber, o que pensávamos perceber... Isto mudou a nossa história pessoal do que nos aconteceu...
Pronto, chegámos ao fim... A queda parou... E agora?

Monday, March 23, 2009

Entre duas metades de Portugal

Dentro do meu coração tenho dois amores... Dois amores que coexistem pacificamente poque não existe em mim a necessidade de escolha. Porque cada um é diferente e tem um significado diferente para mim...

Por um lado amo o Alentejo com as suas planícies perfumadas, o horizonte a perder de vista e toda a míriade de sons e cheiros que preenchem o pôr-so-sol. Amo o Alentejo com o seu ritmo calmo, os seus montados típicos, os estevais e as plantas aromáticas e toda a diversidade existente...
Mas por outro lado sinto que o meu coração pertence ao Norte, à Beira Alta da minha mãe, com os seus rigores, o frio que enregela os músculos e liberta a alma... Os afloramentos graníticos e a vegetação parca, muitas vezes composta por giestas que nos mostram que até na sobriedade pode haver imensa beleza. As gentes endurecidas pela vida mas com um coração sempre pronto a acolher, uma mesa diposta a partilhar um lanche de pão com queijo e uma fogueira para aquecer um fim de tarde na conversa... Pessoas de estilo simples e energéticas, sólidas como a rocha... Gosto da altitude e do vento que açoita a cara e o cabelo, do silêncio preenchido por um ou outro burro ou vaca, enquanto a paz se instala cá dentro...
Eu, que sinto que sou mais Alentejo, tenho contudo dentro de mim um cantinho que me lembra que também sou Norte, que tenho dentro de mim a força da Natureza bruta... E isso faz me sentir que me podem vergar, mas nunca partir, e que as contrariedades da vida não me conseguirão tirar aquilo que sou...
(P.S.: Não poderia escrever este post sem lembrar a minha tia-avó Deolinda que transporta em si toda a energia, frontalidade, generosidade e simplicidade da Beira Alta.)

Tuesday, March 10, 2009

Trabalho de campo

A semana passada tive um dia de campo horrível, daqueles que me fazem odiar peixes e arrepender de ser bióloga em vez de estar num escritório com ar condicionado quentinho.
Tínhamos posto as redes no dia antrerior para ver que peixe havia naquela albufeira e quando chegámos lá era só tirar as redes, voltar a largar os peixes para água e voltar a pôr as redes noutra albufeira. O vento estava forte e atirava os salpicos do barco para cima de nós, mas as duas primeiras redes fizeram-se bem. Eram umas 11 horas quando chegámos à 3ª. Começámos a tirar a rede de água e estava cheia de peixe! Mas cheia ao ponto de ter peixe em todos os bocadinhos de rede! Ainda por cima era só carpas. As carpas têm dois espigões dentados que se prendiam e enrolavam completamente na rede. Elas estavam de tal forma presas que eu não era capaz de as soltar e acabei de deixar isso para os meus colegas de campo, encarregando-me de segurar as redes. Entretanto começa a chover enquanto aquele vento no continua a fustigar... Passei o dia todo a tremer de frio e os meus dedos ficavam sem pinga de sangue! Ainda pensei se estar tanto tempo sem circulação não lhes faria mal e lá ia tentando restabelecer a circulação.
Íamos a meio da rede (cada rede tem 30 metros) quando percebemos que não dava para continuarmos a trabalhar ali com tanto vento e frio. Metemos a rede com os peixes todos para dentro do barco e procurámos um enseada mais abrigada. Por esta altura já eram 16 horas e ainda não tínhamos almoçado e ainda nos faltavam duas redes e só tinhamos conseguido "limpar" metade daquela em 5 horas!
Acabámos por ter de desistimos da rede e pedimos um canivete ao dono que andava a tomar conta de nós (não fossemos nós destruir aquilo tudo, sabe-se lá!) para cortar a rede e tirar os peixes. Nem assim! Tivemos de tirar as boias e as cordas mais grossas à rede e atirar a rede com os peixes assim para dentro de água (a maioria já estava morta). Contámos e medimos 125 peixes e estimámos que ainda estavam outros 100 na rede, para terem uma ideia...
No fim do dia tinha os braços tão cansados que nem tinha agilidade suficiente para apertar o botão das calças!
Para termos a cereja no topo do bolo, perdemos o canivete ao senhor...
Há dias em que não me sinto nada bióloga, mas amanhã lá estarei outra vez...