Tuesday, January 07, 2014

Esvaziar

Num Verão, para aí dos meus 14/15 anos, em que os dias eram passados a explorar caminhos e atalhos; um dia chegámos ao cimo de uma colina, e, por comum acordo, gritámos até não conseguirmos mais.

Hoj apetece-me fazer o mesmo. Gritar até não haver mais nada dentro de mim, expulsar toda a raiva que se acumula, todos os palavrões sussurrados, gritar tudo o que guardo constantemente dentro de mim, cortar essas amarras que me prendem, sufocam, fazem ser sempre aquela "boa menina", que concorda, sorri e diz que está tudo bem, que não se revolta, não se zanga, não arma conflito. A que não é capaz de falar, de dizer tudo sem ideias incompletas, sem censura.

Hoje voltava a subir a colina e gritava. Hoje desatava a correr até não ser capaz de respirar. Hoje arranjava um saco de boxe e batia, sem contenções, com tudo o que tenho dentro de mim. E quando acabasse, não seria uma pessoa nova, mas seria com certeza mais leve. Sem pensamentos guardados, sem a crítica que não é dita para não ofender, sem a amargura que me envelhece e o stress que me mina aos poucos, sem o sal cristalizado num recanto qualquer que nem sei...

Thursday, November 28, 2013

Noite


Gosto da noite acordada...
Do seu véu de mistério que só revela parte e apenas o que quer
Do tom intimista que dá às conversas
Dos segredos partilhados a meia voz
Dos olhares cruzados à luz de uma fogueira ou de um candeeiro longínquo

Gosto da noite dormida...
Dos sonhos inconfessáveis que se guardam no canto dos segredos só nossos
De acordar e ficar naquele estado latente como que flutuante entre a realidade e o sonho

Gosto da noite solitária...
De deitar no chão a contar estrelas
De ficar à janelas a ouvir a noite
De deixar ps pensamentos divagarem sem rumo, sem pressa
De ficar à espera do próximo pirilampo

Seja qual for a noite, dá-me força, dá vontade de viver o dia...

Friday, November 22, 2013

Música

"Quando estiveres a acabar, sustenta a última nota e faz um decrescendo até se deixar de ouvir..."
"Mas, professor, acha que se vai ouvir na audiência?"
"Não, mas tu vais ouvir..."

Monday, September 16, 2013

Manifesto: The mad farmer liberation front


Love the quick profit, the annual raise,
vacation with pay. Want more
of everything ready-made. Be afraid
to know your neighbors and to die.

And you will have a window in your head.
Not even your future will be a mystery
any more. Your mind will be punched in a card
and shut away in a little drawer.

When they want you to buy something
they will call you. When they want you
to die for profit they will let you know.
So, friends, every day do something
that won't compute. Love the Lord.
Love the world. Work for nothing.
Take all that you have and be poor.
Love someone who does not deserve it.

Denounce the government and embrace
the flag. Hope to live in that free
republic for which it stands.
Give your approval to all you cannot
understand. Praise ignorance, for what man
has not encountered he has not destroyed.

Ask the questions that have no answers.
Invest in the millenium. Plant sequoias.
Say that your main crop is the forest
that you did not plant,
that you will not live to harvest.

Say that the leaves are harvested
when they have rotted into the mold.
Call that profit. Prophesy such returns.
Put your faith in the two inches of humus
that will build under the trees
every thousand years.

Listen to carrion -- put your ear
close, and hear the faint chattering
of the songs that are to come.
Expect the end of the world. Laugh.
Laughter is immeasurable. Be joyful
though you have considered all the facts.
So long as women do not go cheap
for power, please women more than men.

Ask yourself: Will this satisfy
a woman satisfied to bear a child?
Will this disturb the sleep
of a woman near to giving birth?

Go with your love to the fields.
Lie down in the shade. Rest your head
in her lap. Swear allegiance
to what is nighest your thoughts.

As soon as the generals and the politics
can predict the motions of your mind,
lose it. Leave it as a sign
to mark the false trail, the way
you didn't go.

Be like the fox
who makes more tracks than necessary,
some in the wrong direction.
Practice resurrection.

Tuesday, August 13, 2013

Memórias musicais

É incrível como algumas músicas que ouvimos quando somos pequenos se pegam à nossa memória com uma força superior a tantas outras que ouvimos no nosso dia-a-dia. Esta é outra música de Rui Veloso que me lembro de ouvirmos no carro viagens de família.

E é incrível como algumas músicas com que nos identificamos há 10 anos, continuam a fazer sentido hoje em dia... E músicas ouvidas no diskman com uma folha à frente a tentar perceber a letra, ainda sei quase todas as palavras, e os mesmos versos que nos chamavam a atenção, ainda são aqueles a que a nossa mente se liga.

"Você não tem status, é um pouco aéreo, não mostra sinais, ninguém o leva a sério..."

Olho para trás e penso o que mudei desde esse tempo e agora venho aqui escrever e percebo que não mudei assim tanto... Desenterrar memórias é assim...

Bem e se continuar perdida como descreve Rui Veloso, resta-me sempre a solução "deixe o litoral, povoe o interior (...) lá nas serranias é outro amanhecer, junto com os dias você vai renascer...". E, estranhamente, faz sentido...



Monday, July 22, 2013

Desajeitados

"Não te estou a dedicar esta música nem nada, porque acho que ela tem uma letra muito forte, mas ouve..." disse ele de auricular na mão...
"Está bem..." respondeu ela confusa.

E apesar do que ele disse, foi como se lhe tivesse dedicado aquela música... Andou anos ali escondida no computador, entre tantas outras músicas, tal como tantas outras coisas... Mas ela sabia sabia a letra de cor...

Passados muitos anos, ela leva-o ao sítio do primeiro beijo e, de auricular na mão diz-lhe para ouvir... essa música...

E aquela ficou a ser "a" música deles....


Monday, June 17, 2013

Anaquim



Esta foi a música que me fez apaixonar pelos Anaquim (sem a receita!). Sentada no chão de um pavilhão cheio de gente, sentir-me por um momento isolada de tudo, numa bolha só minha, a tentar captar as palavras todas da música e virem-me lágrimas aos olhos.
Porque todos queremos ser especiais, ter alguma característica que nos destaque ou ser outra coisa diferente. Algures no fundo do nosso ser esta insegurança que nos faz olhar para os outros e querer ser mais divertidos, bonitos, corajosos...